A era é digital

A era é digital

Rachel Weber

Empregada da Caixa Econômica Federal, diretora da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal – Fenae, cursa Ciências Sociais na UFRGS.

 

Vivemos eternos conflitos de geração ao longo da história, mas talvez nenhum tenha sido tão drástico como o que temos hoje.

A passagem do mundo analógico para o digital trouxe uma maneira tão inovadora de fazer tanta coisa que até as formas de pensar das pessoas foram transformadas.

Quem ainda nasceu no século passado é considerado um adaptado nesse mundo digital, mas os que nasceram desde 2000 foram criados já com smartphones e entendendo o acesso à internet como a forma mais fácil de acessar o mundo.

O movimento dos trabalhadores tem sua origem pautada em amplos debates que ocorrem em grandes encontros presenciais. Tudo passava por reuniões nas bases de trabalho, nos atos públicos, e tudo, quase sempre, de forma off-line. Mas os jovens que entram nas categorias estão recebendo informações todos os dias por aplicativos de notícias e por redes sociais e já não se identificam com a forma tradicional dos sindicatos em levarem para cada um o jornalzinho sobre os acontecimentos e sobre os eventos pertinentes à categoria.

Muito encasquetada com essa diferença entre a forma com que os colegas bancários mais jovens se comunicavam em relação àquilo que era oferecido pelo movimento dos trabalhadores, comecei a buscar instrumentos que nos permitissem dar uma luz nessas diferenças e enxergar, inclusive, seus pontos de intersecção.

E foi assim que surgiu o #prontofalei, projeto realizado pela Fenae e que apresentei em um encontro da LBS, o qual fazia parte do Programa de Encontros Virtuais durante o ano de 2020.

O #prontofalei reuniu jovens da Caixa com algumas premissas estabelecidas especialmente para esse evento. Nada de palestras de 40 minutos; os representantes da entidade não teriam espaço maior do que os demais convidados; todos teriam voz e o ambiente era descontraído (sim, rolavam umas cervejas após o almoço, com certa moderação), colorido e moderno.

Escolher um coworking onde montamos uma meia arena, com visual com frases impactantes vindas do dia a dia da internet, já deu o recado: não seria uma reunião em uma sala de hotel em tons beges com marfim.

Chamamos para conduzir um mestre no diálogo com jovens desde o Programa Livre do SBT, até o Altas Horas, ainda hoje na Globo, e que mantém uma audiência jovial e interessada nos mais diversos assuntos. Claro que deu muito certo, mas, além da condução, os palestrantes também foram convidados a dar uma visão diferente sobre o mesmo tema.

Então, tivemos pessoas falando sobre Linkedin, que é uma plataforma de divulgação de currículos e de construção de redes profissionais, e uma sobre o MTST, que é o Movimento de luta dos sem-teto no Brasil.

Assuntos variados, que começavam sobre questões mais abrangentes como o impacto do 5G na sociedade até chegar no como mobilizar colegas para defender seus direitos nos locais de trabalho, sem imposição alguma e sim proposições. Foi uma soma de características que fez desse evento um acontecimento em que pudemos sentir que, de fato, provocamos os jovens da nossa categoria. A reflexão sobre o mundo à nossa volta e a busca por transformá-lo é, no fim das contas, um dos principais papeis do dirigente de entidades representativas dos trabalhadores. Temos feito isso por décadas e, portanto, somos um dos movimentos sociais mais fortes e representativos do Brasil, inclusive um de nós se tornou Presidente da República em 2002. Lula é uma das maiores lideranças que o Brasil e o mundo já viram.

Entretanto, esse olhar para as mudanças tecnológicas e o quanto elas afetam a nossa forma de pensar e de agir precisa ser mais rapidamente incorporado às nossas práticas do dia a dia.

A pandemia da Covid-19, que nos tirou tantas vidas, acabou nos trazendo também essa urgência na relação com as formas mais digitais, nos colocando na obrigação de criar ambientes virtuais para reuniões, para assembleias e para grandes encontros.

Na relação do dia a dia, ainda não conseguimos achar um meio termo entre a importância de estar presencialmente perto dos colegas e o alcance que os meios digitais de comunicação alcançam. E essa equação tão nova ainda não tem uma resposta definitiva, mas é importante sabermos as perguntas e estarmos sempre dispostos a buscar as soluções. Vamos juntos?