Fernando Henrique Machado Roriz
Advogado da LBS Advogados
Dia Internacional do Orgulho LGBTI+, 28 de junho! Festas! Luzes! Cores! Arco-íris! Gay pride!
Neste mês de junho, há alguns anos, tem se reiterado nas mídias sociais o mesmo discurso de igualdade, necessário, diga-se de passagem. O respeito vem com a educação, que pode ser mais bem fixada com a repetição.
Mas um instante!
Ainda somos o país que mais mata população LGBTI+ no mundo, pelo quarto ano consecutivo.[1] Em meio a tantas manifestações e discursos de luta pela igualdade de gênero, é contraditório que esses índices de violência se mantenham insuperáveis.
Como diria Caetano Veloso: “Alguma coisa está fora da ordem. Fora da nova ordem mundial.”
Para completar, temos ainda um presidente que diz que a família é sagrada e insinua que os LGBTI+ vão para o inferno.[2] A Ministra da Família e dos Direitos Humanos, por sua vez, afirmou em 2019 que o Brasil estava em uma nova era, que “meninos usam azul e meninas usam rosa”.[3]
Talvez seja necessário pensar não apenas na violência em si, mas questionar de onde se origina o preconceito.
A discriminação é alimentada pela imposição de padrões que denominamos heteronormatividade, que nada mais é do que uma imposição social para ser ou se comportar de acordo com os papéis de cada gênero.[4]
Detectar padrões é fácil. Difícil é analisá-los a partir de um olhar pluralista, respeitoso, democrático e acessível.
Pessoas LGBTQI+ não vão acertar as contas com Deus, porque isso é uma imposição moral que só se refere à consciência do então presidente. Não da nossa.
Meninos e meninas utilizam as cores que bem quiserem.
Homens não precisam gostar de futebol.
Mulheres não precisam ser bailarinas.
Homens não precisam “pegar” mulheres para serem mais homens.
Mulheres não precisam ser doces e delicadas para serem mulheres.
Homens podem ser afeminados e não há nada de “menos homem” nisso.
Mulheres podem falar de modo grave e homens podem falar fino. E não há problema algum.
Homens podem demonstrar sentimentos, serem sensíveis, chorar e permanecem sendo homens.
Mulheres podem trabalhar, ter filhos e serem “donas de casa”, mas não são obrigadas a nenhuma dessas coisas.
Homens podem se maquiar sim. E mulheres se depilam se elas quiserem.
Não é achismo, não é “mimimi”, não é imposição cultural, é respeito.
Sim, muitas vezes um pedido insistente, porque falamos de uma minoria atacada, violentada, silenciada e, muitas vezes, morta por não seguir as regras da heteronormatividade.
Deixo, ao fim, uma pergunta inicial para este mês: Você impõe padrões? Alimenta padrões? Você julga quem é fora do padrão?
Tempo na tela… Deixo a resposta para a sua consciência.
Não basta defender o amor entre homens, mulheres, trans e bissexuais. Isso é necessário, mas é preciso ir além. Enfatizar a heteronormatividade é fortalecer preconceitos! Reflita!
Brasília, 7 de junho de 2022.
[1] https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2022/05/brasil-e-o-pais-que-mais-mata-pessoas-lgbtqia-no-mundo-pelo-quarto-ano-consecutivo/
[2] https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/01/4978076-bolsonaro-diz-que-familia-e-sagrada-e-insinua-que-lgbtqi-vao-para-o-inferno.html
[3] https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/01/03/em-video-damares-alves-diz-que-nova-era-comecou-no-brasil-meninos-vestem-azul-e-meninas-vestem-rosa.ghtml
[4] https://amaro.com/blog/br/estilo-de-vida/heteronormatividade/